domingo, 17 de novembro de 2013

Exílio Babilonico

EXÍLIO BABILÔNICO - 587 - 538
A tomada de Jerusalém, a destruição do Templo e a morte de Godolias, governador provisório da judéia em 587, marcam a divisão da história de Israel de maneira irreversível, como antes e depois do exílio. A partir do exílio da Babilonia o povo de Israel se apresentará sempre em duas partes, dois grupos:
Ä  o grupo que ficou na terra, e
Ä  o grupo daqueles que estão em terra estrangeira = Diáspora
Tanto um grupo quanto o outro não possuem mais um Estado e arriscam ser varridos da história como uma nação particular. Esta ameaça é tão real que durante o período do exílio babilônico, a história do povo de Israel, principalmente nos meios cristãos,ficou quase totalmente desconhecida por falta de documentos, um testemunho histórico desta época.
O POVO QUE FICOU NA TERRA
A morte de Godolias foi seguida por um movimento de resistência dos Amonitas e Moabitas aos exércitos babilônicos. Esta resistência foi extinta em 582 com a deportação de numerosos anionitas e moabitas e alguns judeus que haviam se comprometido com a revolta(cf. Jr. 52,30).
Por outro lado, Nabucodonosor conseguiu conquistar Tiro após 13 anos de cerco em 572(cf Ez. 29,17-20; 25-28). Neste período a região de Judá ficou sem nenhuma liderança política, uma região semi abandonada. O desaparecimento de uma entidade política judaica permitiu aos edomitas ocuparem uma parte importante do reino de Judá. Aliados dos caldeus, os edomitas aproveitaram rapidamente esta oportunidade sobretudo porque estavam sendo pressionados pelos árabes do norte, em particular a confederação de Quedar, em plena expansão. Assim os edomitas se apossaram da maior parte do Neguev desde 597. A campanha de Nabucodonosor em 588-587 com a tomada de Laquis, permitiu aos edomitas ocuparem o sul da montanha de Judá e da Sefelá até a fronteira, incluindo Laquis, Hebron e Em Gadi.Os combates mortais ali travados e a deportação massiva deixaram o território de Judá reduzido a um grupo de canponeses ligados à terra da qual tiravam sua sobrevivência.
Quase todas as cidades haviam sido destruídas. Os citadinos que ficaram tiveram de voltar ao trabalho da terra, por necessidade, atribuindo-se os campos dos que haviam sido deportados ou desaparecido durante a guerra. É o que nos dá a entender Jr. 39,8-10. Após a morte de Godolias, provavelmente os babilônios anexaram esta população dispersa nas campanhas à província da Sarnaria. Paradoxalmente recriaram a unidade do povo de Israel, mas num estado calamitoso: um povo humilhado, desorganizado, em território ocupado e controlado pelos babilônios.
O livro das Lamentações expressa admiravelmente a fraqueza do povo de Judá que tinha somente as ruínas do Templo como ponto de referência e sobre as quais continuavam a celebrar os sacrificios não sangrentos: oblação e incenso.(cf. Jr 41,4-5)
O GRUPO DOS EXILADOS
Os judeus exilados em 597,587 e 582 representavam a elite da população, as classes dirigentes - notáveis e altos funcionários, e os operários especializados - artesãos. O número dos deportados de 597, parece ter atingido o número de 10.000 (cf. 2 Rs. 24,14.16). Este número não confere com o que nos diz Jr. 52,28-30. No entanto, podemos supor um total de 20.000 pessoas, incluindo mulheres e crianças entre as 3 deportações. Na leva de 582 estavam também incluídos os pobres da terra.
O estilo de deportação dos babilônios foi diferente da dos assírios. Os assírios misturavam os prisioneiros entre as populações estrangeiras a fim de evitar o reagrupamento dos exilados da mesma nação. Os babilônios não dispersaram os grupos de deportados, permitindo o reagrupamento em campos ou cidades da Babilônia.
O profeta Ezequiel menciona Tel Abib - “Colina da primavera” perto do rio Cobar (Ez 3,15). Isto quer dizer o “Naru Kaburu” um dos grandes canais babílônicos. Pode-se também mencionar Tel Mela, Tel Harsa, Querub, Adon Emer ( Esd. 2,59; Ne 7,61) situadas no coração da Babilônia, não longe das cidades de Nipur e Babilônia.
O reagrupamento dos exilados permitiu-lhes uma certa vida comunitária. Eles podiam se reunir facilmente, se organizar ao redor dos “anciãos”, escutar os profetas e continuar ligados pelo correio com o que se passava na terra, pelo menos até 587. Sendo que o chefe legítimo, rei Joiaquin, estava prisioneiro, foi Ezequiel, o profeta que se revelou como líder espiritual dos exilados, reanimando sua coragem, denunciando as esperanças vãs de um rápido retorno, criticando as faltas passadas e os exortando a voltar para YHWH, misteriosamente presente no meio deles(cf. Ez. 1).
De Jerusalém, Jeremias transmitia através de carta, uma mensagem semelhante. Recomendava aos exilados de não prestar ouvidos a vãs esperanças e sim se preparar para um exílio bastante longo(cf Jr. 29,4-7).
Estas recomendações bastante realistas explicam porque desde a primeira deportação os exilados se mostraram empreendedores. Alguns fizeram fortuna no comércio ou na alta administração. Tendo recebido uma formação que os tornava aptos para ocupar altas funções no comércio ou administração, possuindo mão de obra especializada que era bastante procurada, a maior parte dos primeiros exilados encontraram seu lugar numa sociedade e economia em plena expansão. No entanto guardavam um forte sentimento de pertença nacional e esperavam voltar um dia ao pais, esperança longínqua alimentada pelos profetas(cf. Ez. 37 - a visão dos ossos secos que significa a ressurreição nacional).
O sentimento nacional e a esperança de renovação eram reforçadas pelo reagrupamento dos exilados em torno de seus líderes: o representante da dinastia davídica, os “anciâos de Israel” e os sacerdotes.
Ä  O representante da dinastia davídica. O rei Joiaquin deportado em 597 era considerado um rei legítimo. Os exilados saudaram sua libertação em 560 após a chegada de Evil Merodac (Amil Marduk) que o libertou, como um sinal que anunciava a renovação nacional. Tanto mais que Joiaquin e sua família tiveram lugar na corte babilônica ( cf 2 Rs. 25,27-30). Foi provavelmente em reconhecimento desta libertação que Joiaquin deu nomes babilômcos a alguns de seus descendentes.
Ä  Os “Anciãos de Israel”. Os anciãos eram os chefes tradicionais dos exilados. Estes conservavam a organização da família ampliada, clã e tribo, com referência particular ao lugar de origem.
Ä  Os sacerdotes de Jerusalém. Como dissemos anteriormente, quase a totalidade dos sacerdotes foi deportada na primeira leva. Eles se revelaram naturalmente como autoridades religiosas depositárias das tradições israelitas. Não é por acaso que um deles, Ezequiel seja “filho de Buzi”(Ez; 1,3) que ficou para sempre chefe espiritual dos exilados. Não tendo mais que se ocupar do Templo e dos sacrifícios os sacerdotes tornaram-se guardiões do ensino e da tradição israelita junto aos exilados. Com este objetivo redigiram a história e a lei sacerdotal. Eles insistiram particularmente nos ritos que diferenciavam os exilados daqueles que os cercavam: a clrcuncisão, os tabus alimentares (puro- impuro) e as festas. O contato com os babilônios e sua astrologia permitiu uma reforma do tradicional calendário lunar, com a proposta de um novo calendário, o “calendário sacerdotal”, mais preciso que o anterior. Talvez foi na ocasião desta reforma que transpuseram a data do “shabat” tradicionalinente ligado à lua cheia, para uma festa de cessar o trabalho de 7 em 7 dias, inspirados no calendário mesopotânico dos “dias perigosos”.
Embora a maior parte dos exilados tenha sido levada para a Babilônia, esta não foi a única região a receber o povo de Israel disperso. Eles se refugiaram também nos países limítrofes: Amon, Moab, Fenícia, Filistéia e Egito. O exemplo dos oficiais que se salvaram da mão de Ismael (cf. Jr. 41,11-18) mostra bem como o Egito, antigo aliado, tornou-se terra de asilo, especialmente para militares que perderam o emprego. Muitos grupos de israelitas foram empregados como mercenários nas diversas cidades de guarnição militar egípcia: Migdol, Tafnes, Menfis e Elefantina(segundo Jr 44,1 “país do sul”). A colônia judaica de Elefantina tornou-se conhecida recentemente pelas ostracas e papiros aramaicos que foram descobertos na região.
O contexto internacional dos exilados - diáspora - e daqueles que permaneceram na terra mudou rapidamente. Depois de Evil Merodac ou Amil Marduk – 561-560, e Neriglissar -559 - 556, Nabonide tomou o poder - 556 -539. Ele realizou uma política religiosa original, favorável ao deus lunar Sîn. Isto suscitou reação dos sacerdotes de Marduk. Nabonide se apossou do oásis Teima, na Arábia, one ficou por dez anos, deixando seu filho Baltazar (Bel- shar- usur) governando a Babilônia. Durante sua ausência o rei da Pérsia, Ciro, tomou Ecbatána em 550, após ter vencido o rei da Líbia, Cresus, ele conquistou sua capital Sardes em 547/546. Voltando à Babilônia, Nabonide não conseguiu uma resistência eficaz e o governador de Gutium, Gobrias, passou para o lado de Ciro.
Junto com Gobrias, uma parte da população sustentada pelos sacerdotes de Marduk acolheram Ciro como libertador, celebrado pelos oráculos do Deutero Isaías - Is. 40-55. Em 539, Baltazar foi assassinado e Nabonide feito prisioneiro. Ciro entrou triunfante na Babilônia. Uma nova fase e um novo império se apossava de todo o Oriente.
O período da história do exílio da Babilônia e a continuidade da vida dos israelitas na diáspora foi um momento de aprofundamento da fé javista e ao mesmo tempo um momento de ampliar a revelação. O povo de Israel havia perdido o Estado, o Templo, e todas as seguranças externasque poderiam fazê-lo pensar na impossibilidade de que uma catástrofe pudesse se abater sobre o povo. No exílio, sem terra, sem rei, sem Templo, foi o momento do confronto e da busca do Deus verdadeiro. A descoberta de civilizações bem mais avançadas com a multiplicidade de deuses fez com que o povo procurasse definir sua identidade a partir do Deus UM. Os meios encontrados foram novos, dinamizados e sustentados pela tradição israelita, pelo codigo da Aliança, pela Palavra de Deus no meio do povo. A vida dos exilados passou a se organizar em torno da Palavra de Deus, a Torá revelada no Sinal.
Assim foi nascendo a identidade no modo de viver de Israel no meio das nações, a partir dos sinais e símbolos visíveis que identificavam o fiel da Aliança
O sábado — “Shabat” - tornou-se cada vez mais o sinal distintivo do judeu fiel. cf Jr. 17,19-27; Is. 56, 1-8; 58, l3-14. Um sinal perpétuo instituído na criação.(cf (Gn 2,2ss), dizendo que Israel era Israel. Ez. 20,12-14. Na tradição judaica os mestres dirão: Mais do que Israel guardou o sábado, o sábado guardou Israel”
A circuncisão — sinal da Aliança, marca distintiva da pertença ao povo judeu cf.Gn 17,9-14
Leis rituais e alimentares - símbolos de uma religião que procurava ser vivida nos atos mais simples do dia a dia, dando vida e lembrando a presença Shekiná de Deus no seio da comunidade .
A grande esperança - A volta à SION - JERUSALÉM - a restauração do país, a volta e o ideal utópico de um estado no padrão tribal, uma teocracia
VOLTA DO EXILIO NO IMPÉRIO PERSA - 538 - 332
Em 538 Ciro promulgou um edito permitindo a volta dos exilados ao seu país de origem. Ordenou a reconstrução do Templo de Jerusalém às custas do tesouro real. Mais do que isto, ele devolveu “os objetos de ouro e prata que Nabucodonosor havia tirado do Templo de Jerusalém e levado para a Babilônia”. cf. Esd. 1,2-4; 6,5. O Edito de Ciro aparece como resultado da prática política adotada pelos Aquimedes e seus sucessores em relação aos exilados. A tolerância religiosa e cultural dava aos povos dominados uma certa autonomia sob o controle centralizado e burocrático bastante complexo e eficiente dos persas, através do seu sistema de comunicações.
Sassabasar, corruptela de Sin-Ab-Assur, “príncipe de Judá”, recebeu a missão de reconstruir o Templo e Ciro lhe confiou os vasos sagrados. Para desempenhar com eficácia sua tarefa, parece ter recebido o título de “péa”, prefeito ou governador da província de Judá que em aramaico se diz “yehud medînata” cf.Esd. 5,8-17.
A identidade de Sasabassar não é muito segura, mas provavelmente trata-se do filho caçula de Joiaquin chamado Senasser em 1 Cr. 3,18. Sua missão foi quase um fracasso. Se ele recolheu contribuições importantes em dinheiro, o mesmo não se deu com a iniciativa de reunir pessoal para voltar. O número de exilados que voltaram foi pouco numeroso. Chegando a Jerusalém, ele colocou as fundações do Templo (cf. Esd. 5,16) mas os trabalhos foram interrompidos rapidamente e talvez totalmente abandonados com a morte de Ciro. O sucessor de Ciro, Câmbises(530-522), concentrou todas as suas energias para conquistar o Egito em 525.
Após a morte de Câmbises e uma guerra de sucessão, a chegada de Dario (521-486) parece ter sido ocasião para uma nova volta de exilados para Jerusalém, sob a direção de Zorobabel, filho de Salatiel, o primogênito de Joiaquin, nomeado “governador de Judá” e de Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote(cf. Ag.1,1; Esd.2,2). Zorobabel e Josué restabeleceram o altar sob as fundações e desenvolveram a regularidade dos sacrificios e festas. Encorajados pelo profeta Ageu(520) e Zacarias (520-518), testemunhos de agitação religiosa e do zelo do Templo, animam os repatriados à reconstrução do Templo(cf. Esd.3). Como o tesouro nacional participava nesta reconstrução, o governador da província Transeufratena fez uma pesquisa e exigiu a confirmação da ordem de reconstrução de Dario.
Conforme sua política geral, Dario confirma o edito de Ciro(cf.Esd. 6,3-12). Os trabalhos avançaram rapidamente utilizando cedros do Líbano e mão de obra especializada fenícia. Bem mais modesto do que o Templo inaugurado por Salomão, este “segundo Templo” foi terminado em 515 e inaugurado por ocasião da Páscoa deste mesmo ano(cf.Esd. 6,13-22).
O período que segue à inauguração do Templo é um pouco obscuro. Com a construção do Templo havia se desenvolvido a esperança de uma restauração do reino de Judá, tendo à frente os descendente davídico Zorobabel e o sumo sacerdote sadoquita Josué(Zac. 3,1-7). Provavelmente as autoridades persas cuidaram para que esta visão não se realizasse.
As escavações arqueológicas trouxeram ao conhecimento estampilhas e selos desta época. Parece que Hananias sucedeu seu pai Zorobabel na função de governador. Em seguida, Elnatan casado com Salomit, genro de Zorobabel foi quem o sucedeu (cf. 1 Cr. 3,19). A partir deste momento o cargo de “governador de Judá” escapou da linha davídica. As estampilhas aramaicas “yeud” indicam que dois outros governadores (Yeózer e Alsay) haviam organizado muito bem os impostos para os produtos em espécie: trigo, vinho e óleo, na primeira metada do século V(cf Ml. 3,8ss). As arrecadações tornaram-se cada vez mais pesadas pois o governador e seus servidores guardavam uma parte chamada “pão do governador”, costume que será denunciado por Neemias (cf. Ne. 5,15).
Em princípio, estes impostos deveriam permitir a continuação dos trabalhos de renovação e fortificação de Jerusalém, mas no início do reinado de Artaxerxes I (464-424), os trabalhos foram suspensos pela intervenção dos altos funcionários da província Transeufratena, o chanceler Rehoum e seu secretário Samsai, com o pretexto de interditar uma rebelião(cf Esd. 4,6-22).
Para tentar desbloquear a situação Neemias(445), filho de Hacalias, funcionário do rei Artaxerxes, consegue ser enviado como governador de Judá com plenos poderes para reconstruir as muralhas de Jerusalém (cf. Ne 1-2). Com a ajuda do sumo sacerdote Eliasib e apesar das ameaças ciumentas dos governadores vizinhos, Neemias reconstruiu a muralha em 52 dias( cf. Ne. 6,15). Em seguida, Neemias organizou o repovoamento de Jerusalém pedindo às cidades vizinhas que um homem em dez fosse designado como voluntário para morar na capital (cf. Ne. 7,4-72). Assim foi possível realizar a inauguração da nova muralha(Ne. 12,27-29).
Para diminuir o pesado clima social que se criou pelas más colheitas e pelos impostos, empréstimo a juros elevados que rapidamente levava as pessoas a serem vendidas por dívidas, Neemias fez os credores aceitarem o perdão geral das dívidas e diminuiu os impostos renunciando pedir o “pão do governador” (cf. Ne. 5).
Neemias foi convocado a voltar para junto do rei Artaxerxes em 433. Voltando à Jerusalém algum tempo depois, ele se esforçou para fazer o povo aceitar a lei deuteronomista em todo o seu rigor. Ele denunciou as agitações promovidas pelo sacerdote Eliasib em favor de seu parentes, o governador amonita, Tobias. Ele será excluído da assembléia israelita a partir de Dt 23,4. Neemias reorganizou ainda o serviço do dízimo em favor dos levitas(cf. Ne. 13). Ele se opôs aos casamentos mistos, prática que vinha do exemplo da família do sumo sacerdote Eliasib cujo neto havia casado com a filha de Sanbala, governador de Samaria. É nesta época que devemos localizar a novela de Rute, a moabita, como sinal de recusa à política de Neemias. Ele impôs também o respeito ao sábado, fechando as portas de a Jerusalém a fim de impedir o comércio da cidade durante este dia(cf. Dt. 5,12-15). Também nesta época podemos localizar o livro do Cântico dos Cânticos onde a protagonista é uma mulher amada e amante, questionando as estruturas patriarcais da época ao fazer da mulher a principal protagonista, mesmo se o livro é atribuido a Salomão pode-se ver que a Sulamita tem a maior parte da fala em todo o livro.
O fim do governo de Neemias e a história posterior continuam obscuras. Pelo papiro 30 de Elefantina chegou-se ao conhecimento de que o governador de Judá em 407 se chamava Bagoas. A troca de correspondência ligadas à destruição do templo de Elefantina nos revelam que o sumo sacerdote de Jerusalém se chamava Yohanan(cf. Ne. 12,22) e que o governador da Samria era Dalaia, filho de Sanbala. A correspondência civil e religiosa entre Judá e Samaria revelam os problemas colocados pelos diferentes costumes judaicos divergentes no que se refere ao culto, calendários e sacrificios. Neste contexto se situa a missão de Esdras. A data de sua missão continua a ser discutida. Alguns a situam em 458, outros em 398 no tempo de Artaxerxes II. Esta última parece ser a mais provável. No contexto geral parece que a missão de Esdras foi posterior ao governo de Neemias.
Segundo a terminologia oficial firmando a missão de Esdras por Artaxerxes, ele era “sacerdote Esdras, escriba da Lei de Deus dos Céus” (cf. Esd. 7,12) e é como sacerdote especializado nos textos da tradição judaica que Artaxerxes lhe pediu para reunir, harmonizar e unificar as diversas tradições, e de um modo particular o culto. A partir deste momento as autoridades persas disporiam de uma referência escrita oficial em suas relações com a comunidade judaica, tanto na terra de Judá como na Babilônia e em todo o império persa. Tal missão era de acordo com a política geral das autoridades persas e paralela à atitude de Dario em relação às tradições religiosas egípcias. A tarefa era tanto mais urgente pois Artaxerxes desejava poder se apoiar em uma população estável, fiel, na terra de Israel, pois o Egito tinha se tornado independente em 401 e o império persa havia revelado sua fraqueza diante da marcha dos “dez mil” gregos.
Qual seria o conteúdo da Lei do Deus dos Céus que Esdras estava encarregado de promulgar como tendo valor também no plano civil? (Esd. 7,26) Muitos indícios levam a pensar que se trata do atual Pentateuco, a Torá unificada pela redação sacerdotal que harmonizou as tradições mais antigas com o código de Santidade e sobretudo com o calendário sacerdotal.
Para melhor desempenhar sua delicada missão de unificação jurídica, Esdras se fez acompanhar por um número importante de repatriados, em particular de sacerdotes e levitas. Trouxe consigo 650 talentos de prata e 100 talentos de ouro e objetos preciosos(cf. Esd. 8). Graças aos presentes e aos acompanhantes ele foi favoravelmente acolhido. Ele promulgou a nova Lei durante uma assembléia solene no primeiro dia do sétimo mês, isto é na festa de Rosh-ha-shana - Cabeça do ano ou simplesmente início do ano, festa do ano novo. Em seguida o povo celebrou a festa das cabanas(Ne. 8). Mas foi preciso passar à aplicação concreta da Lei: após o jejum da confissão dos pecados, decidiu-se pelo reenvio das mulheres estrangeiras”, o que foi feito clã por clã, com a supervisão dos chefes tradicionais(Esd. 9-10). Apesar de não termos mais informações nos textos bíblicos sobre o sucesso de Esdras como ministro de Estado encarregado das questões judaicas o que sab emos é a que, de fato, a Torá foi aceita nas províncias da Judéia e a importância dada à sua missão se faz perceber pelo lugar de honra que o Pentateuco no desenvolvimento da história, tanto na tradição judaica como samaritana.
O fim do período persa na terra de Israel resta obscuro. O contexto internacional evoluiu rapidametne e foi marcado pela revotla dos sátrapas do oeste com o apoio do Egito em 367. Esta revotla foi severamente punida. Contudo, em 332 Alexadre oo grande será o novo dono de toda a região.
Para a terra de Israel, a dominação persa pode ser considerada globalmente como um período de paz que trouxe uma crescente prosperidade como testemunham as descobertas arqueológicas. O território da Judéia obteve um crescimento demográfico bastante importante. Além do crescimento normal da população que havia ficado, as sucessivas vagas de volta dos exilados se juntaram à população local. Pelo status social e riqueza dos que voltaram, provavelmente se instalaram nas cidades e particularmente em Jerusalém e seus arredores. O recenseamento da província da Judéia relatados em Esd. 2,1 e Ne. 7,6 podem corresponder a um recenseamento real realizado no governo de Zorobabel. A partir dos nomes das cidades que são citadas, a província da Judéia não representava nada mais do que uma faixa de terra em volta de Jerusalém, depois de Jericó até Lod à oeste e Belém e Netofa ao sul, até Betel e Ai ao norte, com uma população de 50 mil habitantes.
Segundo Ne. 3,9.12-18, a província da Judéia era dividida em setores ou cantões que rebiam o nome de “pelek”e a escala administrativa superior, após Dario, era ligada à quinta satrápia Transeufratena ou Além Eufrates. As estampilhas aramaicas “yehud”, seguidas ou não do nome próprio, indicam os impostos “in natura ligados à arrecadação feita pela administração provincial. As estampilhas com o nome do governador indicam a parte de imposto reservada ao governador, “pão do governador. Se o governo persa era tolerante quanto aos costumes e práticas religiosas, no caso dos impostos era bastante inflexível. O governador de cada província devia enviar anualmente uma soma fixa ao governo central. Em troca, o tesouro nacional devia ajudar o financiamento de obras públicas, especialmente a reconstrução do Templo. Esta proteção do culto nacional reforçava o prestígio do sumo sacerdote de Jerusalém. Este, após o afastamento da dinastia davídica do cargo de governador, aparece como o único representante legitimo das tradições nacionais e seu papel político-religioso era reforçado pelas alianças matrimoniais com as famílais dos governadores das províncias vizinhas.
O aramaico era a língua oficial da administração persa nas províncias do Oeste, a escrita e a língua aramaica progrediram rapidamente na província da Judéia porque  a administração estava nas mãos dos exilados vindos da Babilônia, para os quais o aramaico já era a língua usual. As inscrições deste período encontrada pela arquologia são feitas em aramaico e uma escritura paleo hebraica, tanto na Judéia como na Samaria. No entanto, o hebraico continuava a ser falado nas aldeias pelo povo simples. E mais, o hebraico continuou a ser utilizado para a cópia dos textos antigos. Foi somente a partir da missão de Esdras em 398 e para facilitar a leitura da Lei aos funcionários do Império Persa que se começou a utilizar a escritura aramaica para copiar textos bíblicos, escritos que se chamarão mais tarde de “hebraico quadrado”.
A diferença linguística recobre em parte uma diferença de classe social. Os repatriados, mais ou menos aramaizados, desprezavam e por vezes exploravam o povo simples que havia ficado no país(cf. Ne. 5,15) bem como a população samaritana suspeita, por ser de origem mestiça. Estas tensões sociais foram particularmente vivas durante o governo de Neemias. Entretanto a oposição entre judeus e samaritanos nesta época não deve ser exagerada: tanto quanto as cartas de Elefantina como a adoção do Pentateuco como lei na província de Samaria mostram que as duas populações tinham o sentimento nítido de fazer parte da mesma comunidade étnica religiosa, a obediência à mesma Lei, ajuntava-se de agora em diante ao critério de pertença a um clã ou tribo israelita.
Apesar do grande número de exilados que voltou, sabemos que um importante número de judeus permaneceu na Babilônia onde ocupavam cargos e funções administrativas e econômicas. A missão de Esdras e Neemias mostra bem que certos judeus ocupavam altas funções na corte persa sem conrtar as relações com aterra de origem. Não é de admirar que a Babilônia será o local em que se realizará a fusão das diversas tradições do Pentateuco numa só tradição, a Torá, que assegurou a unidade e identidade do povo judeu na diáspora e na terra de Israel no decorrer de toda a sua história.
Além da Babilônia, o Egito foi uma das regiões que reuniu o maior número de exilados(Is. 19,16-25), em particulare no baixo Egito. Durante a dominação grega uma importante comunidade judaica irá se desenvolver em Alexandria. Para o alto Egito temos o testemunho da comunidade de mercenários judeus de elefantina atestada pelos papiros e ostracas do V século(514-398), falando dos problemas ocncretos do cotidiano: alimentação, compra, venda, casameno, divórcio,etc... No “tempo dos reis do Egito”(VI século) esta comunidade cosntruiu um templo dedic ado a Yahô no qual eram celebrados sacrifícios. Em 410, este templo foi saqueado e destruído pelos egípcios, foi então que a comunidade escreveu aos governadore da Judéia e da Samaria para lhes pedir apoioe estes responderam favoravelmente. Eles especificaram que doravane eles não ofereceriam mais incenso e sacrifícios neste tremplo. Provavelmente por serem estes reservados ao Templo de Jersualém.
A importância das comunidades judaicas na Babilônia e no Egito não nos devem fazer esquecer os outros judeus dispersos um pouco em toda parte do Império como faz ver Abdias 20 e provavelmente na Arábia do norte como atestam as inscrições arqueológicas destes lugares.


NB:Tradução livre feita por Ir. Judite Paulina Mayer nds, do livro de André LEMAIRE Histoire du peuple hébreu Paris: Presses universitaires, 1981, p. 70-79.                                                                                                        Fevereiro - 2007